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12 maio 2022

Um Discurso Sobre as Ciências - Parte II

 

Aqui começa a segunda parte do seminário de Boaventura de Sousa Santos "Um Discurso Sobre as Ciências". 

 

A CRISE DO PARADIGMA DOMINANTE Mesmo em decadência, é um paradigma ainda dominante, e vem sendo superado por um novo paradigma que, ao contrário do dominante, considera a importância do senso comum como fonte de conhecimento. Essa crise começou com Albert Einstein, propondo que os eventos não são universais, e sim relativos. Além disso, Santos destaca as contribuições que a física quântica trouxe para quebrar os paradigmas da ciência moderna, afirmando que nem tudo é passível de certeza e pode ser quantificado com exatidão.

 

Ao falarmos do futuro, mesmo que seja de um futuro que já nos sentimos a percorrer, o que dele dissermos é sempre o produto de uma sín­tese pessoal embebida na imaginação, no meu caso na imaginação sociológica. Não espanta, pois, que ainda que com alguns pontos de con­vergência, sejam diferentes as sínteses até agora apresentadas.   (SANTOS, 2008, p.59).

 

O PARADIGMA EMERGENTE CIÊNCIA PÓS-MODERNA: A configuração do paradigma que se anuncia no horizonte só pode obter-se por via especulativa. Tendo como base os sinais apresentados no paradigma atual. "a coerência global das nossas verdades físicas e metafísicas só se conhece retrospectivamente". (Hegel e Heidegger apud Santos, 2008, p. 59). Sendo uma revolução científica que ocorre numa sociedade ela própria revolucionada pela ciência, o paradigma a emergir dela não pode ser apenas um paradigma científico (o paradigma de um conhecimento prudente), tem de ser também um paradigma social (o paradigma de uma vida decente).

 

Santos apresenta quatro teses para o Paradigma Emergente:

1 – Todo o conhecimento científico-natural é científico-social

Santos apresenta o rompimento da barreira que distinguia as ciências naturais das ciências sociais, salientando que essa distinção não tem mais sentido e utilidade no paradigma emergente, sendo que este tende a ser um conhecimento não dualista pautado exatamente na superação das distinções.

Os avanços recentes da física e da biologia põem em causa a distinção entre o orgânico e o inorgânico, entre seres vivos e matéria inerte e mesmo entre o humano e o não humano [...] enquanto Freud ampliou o conceito de mente para dentro (permitindo-nos abranger o subconsciente e o inconsciente) e necessário agora amplia-lo para fora (reconhecendo a existência de fenômenos mentais para além dos individuais e humanos).
 

O conhecimento do paradigma emergente tende assim a ser um conhecimento não dualista, um conhecimento que se funda na superação das distinções tão familiares e óbvias que até há pouco considerávamos insubstituíveis, tais como natureza / cultura, natural/ artificial, vivo / inanimado, mente/ matéria, observador/observado, subjetivo/ objetivo, coletivo / individual, animal / pessoa.

 

É como se o dito de Durkheim se tivesse invertido e em vez de serem os fenômenos sociais a ser estudados como se fossem fenômenos naturais, serem os fenômenos naturais estudados como se fossem fenômenos sociais.

Na terceira e última parte do post sobre esse seminário, continuaremos a partir da segunda tese para o Paradigma Emergente. Até lá!

09 maio 2022

Um Discurso Sobre as Ciências - Parte I



 

Boaventura de Sousa Santos

Sociólogo português nascido em Coimbra, em 15 de Novembro de 1940. É Doutorado em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale (1973) Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Distinguished Legal Scholar da Faculdade de Direito da Universidade de Wisconsin-Madison e Global Legal Scholar da Universidade de Warwick. É igualmente Director Emérito do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e Coordenador Científico do Observatório Permanente da Justiça.

 

UM DISCURSO SOBRE AS CIÊNCIAS

Sendo Boaventura antipositivista escreveu sua obra em 1987, propondo que a teoria do conhecimento seja desvinculada do pensamento positivista. Positivismo esse idealizado por Augusto Comte no século XIX que prega um afastamento radical da teologia e da metafísica ao mesmo tempo que considera inválido qualquer conhecimento advindo do senso comum. Essa obra suscitou nos anos 90, um novo episódio de debate aceso entre positivistas e antipositivista, entre realistas e construtivistas, que em breve se transformou numa nova guerra da ciência conhecido como Sokal Affair – Caso.

Vivemos num tempo atónito que ao debruçar-se sobre si próprio descobre que os seus pés são um cruzamento de sombras, sombras que vêm do passado que ora pensamos já não sermos, ora pensamos não termos ainda deixado de ser, som­bras que vêm do futuro que ora pensamos já ser­mos, ora pensamos nunca virmos a ser (SANTOS, 2008, p.13).

 

O PARADIGMA DOMINANTE – CIÊNCIA MODERNA Santos (2008) expõe que os positivistas que balizam essa ordem científica hegemônica, defendem impetuosamente uma fronteira que fora estabelecida entre o senso comum e a pesquisa científica.

O senso comum contribui para que a ciência progrida. A partir de problemas do cotidiano das pessoas, surge a necessidade de pesquisar, de aprofundar interpretações dos achados e propor soluções para superar as dificuldades enfrentadas pela população.

O paradigma dominante visa desconfiar de todo conhecimento advindo das sensações, estabelecendo um modelo totalitário que recusa o caráter racional das formas de conhecimento diferente daquelas com base nos princípios epistemológicos e nas regras metodológicas do paradigma dominante.

Outro componente presente no paradigma dominante abordado por Santos, são as ideias matemáticas como elemento central que fornecem a análise e a lógica da investigação na ciência moderna, tendo duas consequências principais:

  • o preceito de que conhecer significa quantificar, ou seja, aquilo que não é quantificável é considerado cientificamente irrelevante;
  • o método científico pressupõe a redução da complexidade através da divisão e classificação, tendo como base o método cartesiano.

Em seguida, o autor aborda aspectos do determinismo mecanicista fundamentado por Isaac Newton, o qual considerava que tudo na matéria é uma máquina, portanto, estudar a matéria era como estudar uma máquina. Essa ideia do “mundo-máquina” se transformou na grande hipótese universal da época moderna: o mecanicismo. Esta hipótese acabou sendo aplicada aos estudos da sociedade, partindo-se dos mesmos paradigmas da ciência moderna, originando nas Ciências Sociais. 

 

Santos tece diversas críticas a essa forma mecanicista de estudar a sociedade visto que, segundo ele, o comportamento humano não pode ser explicado com base apenas nas observações, e que a ciência social terá sempre o caráter de uma ciência subjetiva, e não objetiva. “São hoje muitos e fortes os sinais de que o modelo de racionalidade científica que acabo de descrever em alguns dos seus traços principais atravessa uma profunda crise” (SANTOS, 2008, p.40).

Aguardem a segunda parte com "A Crise do Paradigma Dominante" no próximo post.

Até lá!

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