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05 outubro 2017

Monick Gomes


Franciane Monick Gomes de França é Bibliotecária do Instituto Federal de Alagoas (IFAL) desde o ano de 2012, graduada em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e especialista em Biblioteconomia pelas Faculdades Integradas de Jacarepaguá (FIJ). Áreas de Interesse: Literatura, leitura, história das bibliotecas, literatura erótica, ética bibliotecária, censura a livros e preservação/restauração de livros. Alguns dos assuntos foram discutidos em seu Trabalho de Conclusão de Curso e Monografia de pós-graduação. Colaboradora do Projeto “Unidos, leremos! ”



Inforbiblio – Como surgiu o Projeto "Unidos, leremos!"?
Monick – Foi em 2012. Minha amiga Vanessa Oliveira, da área de Comunicação, entrou em contato comigo e com outra amiga nossa da área de Letras, Analice Leandro. A Vanessa tinha uma locadora de livros, que não deu muito certo. Ela acabou encerrando as atividades dessa locadora, mas queria que os livros circulassem e nos pediu ideias e ações para pôr em prática essa circulação. Então ocorreu-nos a ideia da feira de troca de livros. Outras ações também foram testadas, como deixar livros em praças e também a troca direta entre leitores, passando livros de um para o outro, e assim o livro iria circulando.
Essas últimas ações não deram muito certo, mas a feira permanece até hoje. Já houve transição de pessoas no projeto. As duas amigas que iniciaram comigo, estavam sem tempo para se dedicarem, então outra amiga, Jéssica Gonçalves deu continuidade comigo e nós montamos a feira em eventos dos quais somos convidadas.

Inforbiblio – Como vocês chegaram a um consenso em relação ao nome “Unidos, leremos!"?
Monick – Pois é, eu lembro que tivemos algumas discussões sobre como seria o nome, mas sinceramente não me lembro, porque como eu disse, isso aconteceu em 2012. Acho que foi a Vanessa mesmo quem escolheu, em uma das reuniões que fizemos.
Inforbiblio – A feira tem sido gratificante, as pessoas realmente comparecem para trocarem seus livros?
Monick – Depende muito do evento para o qual a gente leva a feira, porque dependemos muitos das pessoas que frequentam. Por exemplo, quando o evento é menor e/ou foi pouco divulgado, o resultado não é muito satisfatório. Quando começamos em 2012, o primeiro evento foi uma experiência muito legal, aconteceu lá no Posto 7, na orla de Maceió. Foi um evento muito interessante, pois tinha uma variedade de coisas, não só a nossa feira de troca de livros. Tinha venda de bijuterias, venda de CDs e Vinis, tinha até um sebo também, então a circulação de pessoas naquele espaço era muito grande. Foi assim durante um mês, todos os sábados, se não me engano. Então quem passava e estava sem livro para realizar a troca, confirmava que voltaria na outra semana.
Eu já organizei a feira aqui no Instituto Federal de Alagoas (IFAL) e apesar de eu ter divulgado muito, aconteceu de alguns alunos esquecerem do dia do evento e não levaram seus livros para trocar, mas isso não impediu que eles tivessem a curiosidade de visitar e manusear e ler as obras. Nós sempre os deixamos bem à vontade quanto a isso. Então de qualquer forma, foi muito boa também.
Participamos também de um evento da Prefeitura aqui de Maceió, que acontecia na Praça do Centenário e lá a frequência foi um pouco maior. É interessante porque existem aquelas pessoas que entram em contato com o projeto pela primeira vez e depois já fica acompanhando pelo Facebook, já curtem a fanpage.
Ultimamente temos realizado a feira com menos frequência, pois como eu frisei antes, as meninas andam meio ocupadas. Então fica para mim o compromisso de deslocar o material até o local do evento. Eu também tenho minha ocupação, sem falar na minha limitação, pois não possuo carro. Isso complica um pouco.
Inforbiblio – Qual é o tipo de público a qual o projeto “Unidos, leremos!" atende?
Monick – Só não atendemos ao público infantil/infanto-juvenil; pelo menos não por enquanto.
Inforbiblio – Você está procurando parceria para que esse projeto de incentivo à leitura tenha continuidade?
Monick – Então, eu estou em negociação com a idealizadora do projeto de uma “feirinha cool” Do lado de cá,que é realizado lá no Centro Cultural Art Pajuçara. Já aconteceram três edições desse evento e a quarta será na VIII Bienal do Livro de Alagoas. Acontece assim: ela monta barraquinhas de vendas. São coisas variadas, tem cactos, estatuetas de Buda, bijuterias. Ela leva também o Minimalista Brechó para essa feirinha. Além disso, ela tem um baú de troca de livros. A ideia é a seguinte, como eu tenho um volume maior de livros que ela, eu vou ceder uma parte para que ela possa levar para trocar na feirinha. Mas, ainda não batemos o martelo, falta acertamos os detalhes, ainda não temos nenhum evento programado.
Outra parceria que eu acabei de formar, foi com a Cooperativa de Trabalho Nacional dos Bibliotecários e Profissionais da Informação (Bibliocoop). A Assessora de Mídias, Rose Marques que organiza a Feira de Troca de Livros - Coopera & Troca, me sondou sobre a possibilidade de juntarmos o nosso acervo em eventos organizados por terceiros e eu aceitei.
Inforbiblio – Fale da sua experiência como Bibliotecária-Coordenadora do IFAL.
Monick – Foi a minha primeira experiência, sou concursada desde 2012. Fui aprovada em 2º lugar, entre as 3 vagas ofertadas. Claro que as experiências anteriores como estágio me deram muita base, não tem como negar. Mas assim, você chegar de início e encarar uma grande responsabilidade é um choque, porque eu assumi o cargo de Coordenadora da Biblioteca do Campus de Palmeira dos Índios, não tinha ninguém naquele momento que pudesse me dar um suporte, mesmo porque eu era a única bibliotecária ali no local. A bibliotecária anterior encontrou uma vez comigo e me passou algumas coisas, mas é diferente de se ter um acompanhamento diário. Confesso que eu fiquei um pouco desesperada em ter que dar conta de procedimentos que nunca tivera contato antes.
Imagine a situação na qual eu me encontrei, a biblioteca estava sem o profissional há 2 anos, porque a bibliotecária anterior havia saído para fazer mestrado. Então a minha responsabilidade foi ainda maior. O Campus lá de Palmeiras era ótimo, as pessoas eram muito legais. Nós formamos um grupo com os bibliotecários novatos e os veteranos e daí nós nos reuníamos para tirar dúvidas, discutir questões e aí o grupo foi crescendo e eu fui me inserindo melhor, fui me desenvolvendo.... Não há nada como o tempo! Você vai adquirindo experiência e tudo fica mais tranquilo.
Depois de um ano surgiu a vaga para o Campus de Maceió. Na lista de posse, eu era a primeira, pois os bibliotecários mais antigos não tinham o interesse de sair dos seus atuais polos. Eu gosto bastante daqui, mesmo porque eu tenho um carinho enorme pelo IFAL, pois eu já fui aluna aqui do Campus. E a experiência aqui foi completamente diferente, aqui eu tive o apoio de duas profissionais muito experientes, então foi muito legal poder contar com elas. E há uma diferença gritante de dimensão entre o Campus de Palmeira e o daqui de Maceió, pois o primeiro fica localizado no interior de Alagoas, é bem menor. Na capital o número de profissionais é maior, o número de atividades que você pode desenvolver é mais expansivo, o acervo é maior, enfim, é outra perspectiva, tem-se outra visão. Contudo, atualmente, não sou mais coordenadora daqui.
Inforbiblio – Na sua visão, como se encontram os Institutos Federais, depois desse governo ilegítimo?
Monick – Uma calamidade, não só os institutos, mas as universidades também estão aí ao ponto de encerrar suas atividades. Está muito complicado, as verbas foram muito reduzidas, foram cortadas, 20% daqui, 20% dali, então isso influencia total e diretamente no processo de aquisição de equipamentos de infraestrutura, contratação de pessoal também, nós tínhamos um contrato de terceirização e foi cortado, enfim, isso implica no bom funcionamento da instituição, pois o número de servidores existente é muito pequeno para dar conta. Então a demanda aumenta muito e fica difícil lidar com isso. Você não consegue trabalhar bem, não consegue desenvolver as atividades que lhe são inerentes, então eatá pesando bastante. Como se não bastasse a velha burocracia existente, com esses cortes fica infinitamente difícil. O setor da biblioteca está sendo bastante penalizado, assim como os outros setores.
Inforbiblio – Você tem um estilo bem diferente (heavy metal) da maioria das bibliotecárias, tem tatuagens, cabelo colorido, piercing - isso de alguma forma atrapalhou você no ambiente de trabalho?
Monick – Eu nunca senti nenhum tipo de preconceito - com relação a isso não, por incrível que pareça, felizmente as pessoas por aqui tem a mente aberta - mas já senti o preconceito das pessoas de outros setores em relação a idade que eu aparento ter para elas; pensavam que eu era estagiária ou algo do tipo, mesmo porque ainda existe aquele estereótipo de que uma bibliotecária necessariamente teria que ser uma senhora mais velha com coque e óculos e que pede silêncio aos usuários, aquele padrão de profissional caricato, né? Apesar de também usar óculos, não me encaixo nesse paradigma... (risos). Mas isso foi só no começo mesmo, depois que eu fui me envolvendo com os setores e com as pessoas que trabalham neles e depois que eu assumi a coordenação também as coisas foram se encaminhando.
Inforbiblio – Nesses seus cinco anos de experiência, você acha que o mercado de trabalho mudou, você acha que estão se abrindo mais portas?
Monick – Boa pergunta! Olha só, eu posso até estar enganada, pois eu logo depois de formada me tornei servidora pública, então não passei por percalços na busca por emprego. Claro que cabe a nós todos da área, Cooperativa, Associação e Sindicato, realizarem a mudança, dar visibilidade ao profissional. Tiro como exemplo aqui o IFAL, mesmo existindo três bibliotecárias no setor temos que estar mostrando o que é de nossa competência e o que não cabe a nós executar, e creio que algumas situações ainda mais delicadas acontecem nos polos dos interiores., mas eu sinto que as empresas estão valorizando mais a figura do Bibliotecário, pelo menos no setor privado, os empresários estão sabendo valorizar mais esse profissional e entendendo a importância dele para a empresa. Eu tenho essa impressão, que os contratantes estão abrindo mais a mente para a necessidade do profissional formado em biblioteconomia, pelos conhecimentos que nós adquirimos na graduação. É o que eu sinto, pelo menos da época que eu me formei para cá, vejo que já melhorou um pouco. Sinto bastante essa mudança não ter ocorrido também na esfera pública, porque as bibliotecas escolares ainda continuam negligenciadas, mesmo depois da Lei nº 12.244, que ainda não está sendo cumprida.
Inforbiblio – Quais seus planos futuros na área?

Monick – Vou fazer mestrado, já está mais do que na hora. Embora meu foco não seja propriamente lecionar, é possível que durante o mestrado isso se altere, mas eu penso mesmo é em desenvolver atividades didáticas nas escolas, tipo, eu estou desenvolvendo agora o projeto de levar alunos do IFAL aos museus; está sendo bem legal, mas ainda é um grupo pequeno, pois esse projeto é recente. Eu ainda não sabia bem se ia alavancar, como ocorreriam as coisas e tal. Então foram os alunos de Turismo que tiveram o interesse em participar, daí isso me despertou o interesse de fazer um trabalho mais voltado para eles, de horas complementares, porque não há, por exemplo, nenhuma disciplina de Turismo Cultural, pois é muito importante que eles tenham contato com os equipamentos culturais, não só os museus, mas arquivo e biblioteca pública.
Então o mestrado auxilia enquanto título, quer queira ou não, o título é tudo, né? Você pode ser boa o bastante no que faz, mas se não possui um título maior que a graduação, as pessoas visam muito isso. Você acaba sendo preterida em muitos momentos e principalmente dentro da área em que você atua. Mas também eu faço isso por mim, eu realmente quero me sentir mais qualificada na minha atuação. Eu ainda não sei se depois do mestrado eu darei continuidade e farei doutorado.
Inforbiblio – Você poderia nos contar onde fará seu mestrado, porque aqui infelizmente não temos nenhuma especialização, nos foi tirado a única chance que tínhamos de sermos especialistas em arquivo – um grande retrocesso, pois o mercado está cada vez mais necessitado de profissionais para atuar em arquivos, o campo na área de arquivo está se desenvolvendo muito. Agora diante disso, imagine a possibilidade de ser mestre nesse contexto - é quase uma utopia, isso é lamentável.
Monick – Pois é, abriram uma turma recentemente, mas só para servidores, um tanto estranho isso. Infelizmente não aconteceu por falta de coro, né? Então estamos aqui, “a ver navios”. Eu pretendo fazer na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), escolinha do coração de todos os bibliotecários... (risos) porque tem Ciência da Informação, que é linda - assim, fantástica - desde o prédio às discussões que ocorrem na área.
"Por que lá?", você deve estar se perguntando... A UFMG foi a minha escolha por vários motivos, pela cidade de Belo Horizonte, pela própria instituição que fala por si só, como também pela minha área de interesse, pelo que eu quero debater, porque desde o final da minha graduação eu já tinha ideia do que eu queria fazer no mestrado, então eu tinha que encontrar uma universidade que tivesse uma linha adequada e tal, que tivesse professores que já desenvolvessem de uma forma aquilo que eu busco.
Inforbiblio – E qual é a sua linha de pesquisa?
Monick – É sobre a censura na literatura, é a mesma linha que eu desenvolvi em meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Só que no mestrado eu vou focalizar o período histórico da ditadura na Biblioteca Nacional (BN), especificamente como se deu essa censura, qual foi o tratamento dado ao material censurado, pois existem muitos trabalhos acadêmicos, mas nenhum cita isso. É importante saber o destino que se deu a essas obras censuradas, se foram incineradas, se desapareceram, enfim, a perda desses conteúdos literários. Saber o perfil do bibliotecário da época, como eles lidaram com esse acontecimento. Também vou abordar a questão do patrimônio, do depósito legal, vou trazer à tona todas essas discussões sobre a BN, enquanto patrimônio literário. Então lá na UFMG, existem professores que trabalham com esses temas da censura e ditadura.
Creio eu que será uma pesquisa nova, original, pois pelo muito que eu pesquisei desde a minha graduação, nunca encontrei nada que juntasse a Biblioteca Nacional e a censura na época da ditadura, pelo menos não parecido com essas discussões, não por esse prisma, entende? Para dizer que eu não encontrei nada, eu recuperei um artigo que falava sobre a seção onde os livros proibidos ficavam localizados, conhecida como “Inferno” - como é conhecido também em outras bibliotecas espalhadas pelo mundo, tipo na França; na Inglaterra também tem essa seção, mas com outro título. Quer dizer, isso era meio comum de ser feito, mas não há nenhuma pesquisa que aprofunde de fato como isso se desenvolveu, o que foi perdido, o que foi recuperado e como foi a atuação dos profissionais. Daí eu vou debater isso com questionários, pesquisa de campo, entrevistas, enfim.
Inforbiblio – Já que estamos falando de censura, qual a sua opinião sobre a censura à Exposição Queermuseu?
Monick – Eu acho absurda, claro! Qualquer intervenção em arte eu acho absurda, sabe? Assim, é aquela coisa, são grupos que querem intervir em algo maior, eu entendo dessa forma. A literatura, arte, a música, têm que ter liberdade de expressão. Isso entra também naquela questão do politicamente correto, eu tenho uma mente e ideias abertas para muita coisa, então se eu for discutir tudo que eu concordo, vou acabar sendo apedrejada pelos hipócritas de plantão.
Eu estava assistindo a uma entrevista do Porchat, perguntaram a ele sobre o politicamente correto e ele falou assim... “Na verdade você tem que escolher onde a cacetada vai ser menor, porque você vai sempre incomodar alguém”. E é mais ou menos isso, não tem como você não incomodar ninguém em nada. Você sempre vai incomodar alguém, seja na literatura, seja na arte, pintura, música, qualquer tipo de expressão, né? Até no seu jeito de ser, você vai incomodar alguém. O que as pessoas têm que entender é que você tem que aceitar, se aquilo não interfere diretamente em você, se você tem a opção de escolher, por exemplo: daquilo eu não gosto, aquilo eu não vejo, então eu não vou a determinada exposição. As pessoas precisam cultivar uma mente mais aberta, pois se toda vez que você não concordar com algo e você exigir que aquilo deixe de existir, não vai existir mais nada no mundo, porque sempre vai existir alguma coisa que alguém que não vai gostar.
Então eu achei aquela interdição totalmente absurda, na época de hoje, século 21, uma invasão, uma intervenção totalmente desnecessária. Como eu frisei antes, não concorda? Não compareça, não visite! Avise aos seus fiéis, se for o caso, para não assistir, não visitar, algo assim.
Inforbiblio – Você tem algum desabafo para fazer e/ou quer deixar alguma mensagem para os seguidores do Inforbiblio?
Monick – Eu estava preenchendo ao questionário da International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA) – Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias, que discutia sobre o que precisava ser feito para tornar as bibliotecas mais acessíveis ou o que precisava melhorar na própria biblioteconomia. Tratava sobre a comunidade saber da existência do profissional, do bibliotecário mostrar a cara, fazer mais palestras, eventos, mostrar qual é a sua qualificação, quais são as suas atividades inerentes.
Então, eu percebi que desde que me tornei uma profissional, eu tenho sentido essa dificuldade da sociedade em perceber que o bibliotecário é tão capacitado enquanto profissional, quanto é o psicólogo, o pedagogo, porque em muitas situações nós somos renegados de alguma forma, sabe?
Numa situação que ocorreu recentemente, envolvendo a Educação a Distância (EAD) - pois aqui é um polo presencial para os alunos dessa modalidade - nós bibliotecários do IFAL questionamos que alguns cargos administrativos são pagos e na nossa atividade não constava remuneração, era para desenvolvemos tais atividades sem haver pagamento. Abriram outra seleção para cargos técnicos, dentre eles pedagogo e assistente de alunos e de novo não constava o bibliotecário. Nós precisamos de uma justificativa do porquê um profissional X tem uma bolsa para desenvolver suas atividades e nós não temos, assim como outros cargos que possivelmente serão utilizados no decorres do desenvolvimento das atividades. E não nos foi dada essa justificativa ainda. Estamos em processo de discussões e reuniões para ver essa situação. Mas isso é só um exemplo da situação, aqui na instituição como nosso grupo agora está bem maior, nós nos reunimos mais, já conseguimos chamar mais a atenção para a profissão.
Inforbiblio – Você acha que isso se deve à falta de conhecimento dos outros profissionais e das pessoas em relação aos bibliotecários?
Monick – Eu concordo com a falta de conhecimento sim, essa é a primeira questão que eu quero levantar, mesmo porque aqui em Alagoas, o curso ainda é relativamente novo. Quando algumas pessoas me perguntam o que eu faço na biblioteca e eu respondo que sou formada, elas reagem com a seguinte frase: “Ah, e existe formação para isso?"
E a segunda questão é em relação aos próprios bibliotecários. Eu vejo muito pouco desbravamento e isso acontece muito próximo a mim, pessoas com quem convivi em várias situações. Tem que mostrar a cara, tem que exigir o que é de direito e o que também não faz parte da nossa ossada.
Quando passam para outros ações e atividades que lhe competem, você tem que ir lá e dizer: isso cabe a mim! Você tem que lutar, brigar e exigir. E eu vejo isso um pouco defeituoso, com relação aos profissionais. Vejo muitos sendo permissivos demais, de aceitar sem tentar mudar o quadro. O profissional tem que saber se impor.

21 junho 2017

Isabel Calheiros


MARIA ISABEL FERNANDES CALHEIROS

Bibliotecária na Biblioteca Virtual da Unidade de Telessaúde (UT), da Gerência de Ensino e Pesquisa (GEP), do Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HUPAA - UFAL - EBSERH). Contadora de Histórias do Projeto Anjos do HUPAA e do Grupo As Carochinhas. Diretora do Conselho Fiscal do Sindicato dos Bibliotecários de Alagoas (SINBIBLIO/AL).
Foi responsável pela reestruturação e coordenação da biblioteca da Faculdade Raimundo Marinho em Penedo. Atuou no CRAS/Messias ministrando oficinas literárias para crianças e adolescentes. Possui graduação em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Alagoas e especialização em Recursos Humanos pelo Centro Universitário CESMAC.



Inforbiblio: Como você escolheu a biblioteconomia?




Isabel Calheiros: Foi meio por acaso, terminei o ensino médio e fiquei 17 anos sem estudar, estava num casamento, meio que acomodada, foi quando passei por um processo de separação, que me deu uma sacudida, a vida complicou. Aí eu pensei em voltar a estudar. A Michele Rodrigues, que é bibliotecária e, também é afilhada da minha mãe. Na época ela era ainda estudante de biblioteconomia, me falou um pouco sobre o curso e eu me interessei. Então fiz cursinho para o vestibular e passei. Ao comparecer à aula inaugural, eu fui surpreendida, pois não sabia que havia passado em 1º lugar e ainda, fui premiada com diploma, que guardo até hoje, e uma camiseta, pelo feito. No decorrer do curso eu fui descobrindo realmente a missão da biblioteconomia, da importância que ela tem, da importância do profissional em gerir a informação, em provocar mudança social na vida das pessoas por meio da disponibilização da informação e incentivo à leitura. Eu fui me apaixonando cada vez mais e hoje estou aqui no centro de apoio à pesquisa

Inforbiblio: Como foi a experiência de ser aprovada em um concurso público?


Isabel Calheiros: Essa não foi a minha primeira experiência. Fiz outros concursos antes, mas não fui muito dedicada em nenhum deles, pois eu trabalhei durante 10 anos em outra cidade, em Penedo, e não me sobrava muito tempo. Às vezes eu era aprovada e não era classificada nas vagas. Até que eu passei em 1º lugar no Concurso da Prefeitura de Palmeira dos Índios, só que quando fui tomar posse, eu vi que não iria compensar. A remuneração era incompatível com as despesas. Era muito caro ir e voltar todos os dias de uma cidade a outra. E para morar lá, também não daria. Muitas pessoas me aconselharam para eu ficar lá e depois tentar uma negociação, mas eu abri mão. Depois aconteceu esse da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH). Passei em 4º lugar, mas com a prova de títulos, eu fiquei em 1º lugar. Eu acho que tudo tem a sua hora certa para acontecer.

Inforbiblio: como está sendo essa experiência de trabalhar no Centro de Apoio à Pesquisa do HUPAA?

Isabel Calheiros: Embora eu seja empregada da EBSERH, como no meu trabalho anterior, sou regida pela CLT, é bem diferente a instituição pública da empresa privada. No começo eu estranhei, pois achava que aqui as coisas funcionariam mais ou menos como no trabalho anterior, aqui há uma maior exigência de processos burocráticos, de protocolos, podemos dizer que os fluxos de trabalho são mais sistematizados. Mas, já estou adaptada. O Centro de Apoio à Pesquisa é formado por vários setores. O meu setor e a Biblioteca Virtual (BV) vinculada â Unidade de Telessaúde (UT) e Gerência de Ensino e Pesquisa (GEP) do HUPAA-UFAL-EBSERH. A UT é gerida pela Prof. Rosaline Mota, que é do quadro de professores do Curso de Biblioteconomia da UFAL, é ligada à Rede Universitária de Telessaúde (RUTE), disponibiliza recursos materiais e humanos, para promover web e vídeo conferências na área de saúde, facilitando o intercâmbio entre os profissionais da área. A BV tem a missão de fornecer acesso às bases de dados científicas na área da saúde para a comunidade acadêmica do HUPPA, contribuindo assim com o processo de formação acadêmica dos usuários e fomentando a pesquisa e o ensino no âmbito hospitalar.

Inforbiblio: A biblioteca é só para os funcionários do HUPAA?

Isabel Calheiros: Não, mesmo porque o HUPPA é um hospital escola, então ela faz parte não só do hospital, mas da UFAL, como eu disse anteriormente. Se chegar aqui qualquer aluno da UFAL, ele também pode pesquisar. Quando eu tomei posse do cargo, a biblioteca era apenas virtual, só tinha os computadores e nada de livros. Esse pequeno acervo que você está vendo, nós conseguimos através de doações. Enviamos ofícios para as editoras e agora já temos em torno de 800 exemplares, fomos contemplados também com uma doação do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas de Alagoas (PBE). A ideia é que esses livros sejam disponibilizados para os pacientes. Mas para isso teríamos que possuir uma equipe maior, porque para essa circulação entre pacientes, tem que existir todo um cuidado, tem que haver todo um processo de higienização diferenciado. Há um protocolo para isso que ainda estamos estudando. Por enquanto nós estamos emprestando apenas para os residentes e aos funcionários. Mas mesmo assim, já estamos contribuindo com o incentivo à leitura. 
Eu já fiz abertura de palestras com contação de histórias. Logo que iniciei o trabalho aqui no hospital, me deram essa incumbência, no acolhimento dos residentes. Nós abrimos campo de estágio para o curso de biblioteconomia. No ano passado, tivemos 3 estagiários aqui e acho que teremos mais esse ano. Essa oportunidade é muito boa, para o aluno, pois além da parte técnica eles participam do projeto de contação de histórias.

Infobiblio: Quando você percebeu que tinha o dom para a contação de história?

Isabel Calheiros: Apesar de meus pais não terem contato com a leitura, pois eles tiveram pouca instrução, no que diz respeito as letras, a contação de histórias esteve presente desde sempre na minha vida. Nós morávamos no interior e eu me lembro que na minha infância, à noite, minha mãe sentava-se na sala e contava histórias para mim e meus irmãos. E por meio do curso, fui estagiar na BPE e lá trabalha-se muito a questão da Ação Cultural. Na época a diretora era a Wilma Nóbrega, ela criou aquele espaço infantil, um espaço muito colorido, com muitos livros. Que não era igual ao que tem hoje lá, era bem diferente, mas a Wilma foi uma das pioneiras, pois tinha essa preocupação com o incentivo à leitura para a criança. Foi a partir daí que eu me descobri uma contadora de histórias, pois quando as crianças chegavam lá, era eu que as recebia... Ía contando e me encantando. Lá eu conheci as meninas do Grupo As Carochinha, comecei a fazer parte do grupo juntamente com a Márcia Sarmento Câmara e a Marize Sarmento. Fui me envolvendo com aquele universo todo de fantoche, literatura infantil, encantamentos e fui tomando mais conhecimento, fazendo cursos sobre essa temática, fui incorporando a contadora de histórias, ou melhor, fui trazendo à tona a contadora de histórias que habitava em mim.
   
Inforbiblio: Você tem algum projeto aqui, por exemplo na Pediatria, fazendo contação de histórias que funcionaria como uma Biblioterapia?

Isabel Calheiros: Temos o “Anjos do HUPAA”, que é um grupo de contadores de histórias, formado por servidores e residentes do hospital e alunos dos cursos de nutrição e psicologia da UFAL. Nós inscrevemos esse projeto na Pró-Reitoria de Extensão (Proex) da UFAL. O projeto foi aprovado, mas infelizmente sem direito a bolsa. Então, fica muito difícil conseguir alunos para participarem voluntariamente. Mas, mesmo assim, estamos conseguindo executar o projeto. Durante o ano de 2016, fizemos contação de história às sextas-feiras na pediatria. Nós trabalhamos em parceria com a equipe multidisciplinar da pediatria, eles abraçaram muito bem a causa. 
Agora em 2017, nós começamos a levar esse projeto também para o centro de tratamento oncológico o CACON, às segundas-feiras. Às vezes acontece na recepção e em outras vezes no setor de quimioterapia. Costumamos ir no período da tarde, mesmo por causa do horário de disponibilidade dos estudantes/colaboradores que estão participando. Gostaríamos muito que estudantes de Biblioteconomia se engajassem nesse projeto, até o momento não temos ninguém da área, pois é um campo aberto para a pesquisa em Biblioterapia. 
O mais interessante é que quando você conta história para esse público, você não só fala, você ouve também, ouve muito! É incrível como as histórias são assim capazes de trazer acontecimentos e fatos internalizados, coisas da infância, adolescência, da juventude. Isso é um verdadeiro compartilhamento de emoções. Nesse processo de escuta, eles relembram que já ouviram essas histórias de seus avós, seus pais e até de seus vizinhos quando eram crianças. Acontece de eles relatarem as histórias contadas por nós, mas com a versão que eles aprenderam lá atrás. Esse processo é muito, muito bacana mesmo. 
Depois que acontece a contação, nós fazemos uma espécie de feedback, um questionário para medir a satisfação dos pacientes, para sabermos o que devemos melhorar. Nós pretendemos também relatar essas ações, mesmo porque nós já fizemos algo parecido, com as ações da Pediatria, quando apresentamos um relato de experiência na II Jornada Acadêmica do HUPAA, que aconteceu em 2016.

Inforbiblio: Você também é Facilitadora em Oficinas de Contação de Histórias, conte um pouco sobre essas oficinas.

Isabel Calheiros: Com o “Grupo As Carochinhas”, nós temos uma oficina permanente que ocorre anualmente na Livraria Paulinas. Aqui no hospital nós fizemos uma oficina para os componentes do Grupo Anjos do HUPPA, mas que foi aberto também para quem quisesse participar. Foram 3 módulos independentes e contou com um total de 20 participantes, entre estes alguns alunos de biblioteconomia. Já realizamos oficinas também para Prefeituras, escolas e na Bienal Internacional do Livro.

Inforbiblio: A Secretaria de Estado da Cultura de Alagoas (Secult), esteve participando de um evento aqui, não é mesmo?

Isabel Calheiros: Na verdade foram dois eventos. Por meio do Programa Nacional de Incentivo à Leitura (PROLER), que é subordinado à Secult e coordenado pela Bibliotecária Mira Dantas. No ano passado, veio para cá, a Diretoria de Teatro do Estado de Alagoas (Diteal), com a Exposição Poesia em Foco: Uma visão contemporânea de Maceió - uma exposição audiovisual, com fotos e poesias, feita para homenagear os 200 anos de Maceió. Para a abertura desse evento, contamos com um Recital de Poesias da Confraria Nós Poetas. Contamos também com a participação do Coral Carlos Gomes da Escola Estadual de Cegos Cyro Accioly. Agora em 2017, tivemos a I Jornada Cultural do HUPAA, que aconteceu com uma manhã inteira de atividades culturais e o Coral e a Confraria, participaram novamente. Trouxemos também o grupo de Teatro “Pisa na Fulô" e o grupo contadores de histórias mirim, Trupe Navegante, do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) da cidade de Messias. Esteve presente também a Companhia Literando, a escritora Fátima Maia e a Contadora de Histórias Adriana Chaluppe contaram histórias na pediatria. Vieram também a Cia de Dança Contemporânea Adois, de Carleane Correia e Kronos - eles são maravilhosos dançando. Tivemos ainda a participação do Mestre da Cultura Popular, Dangel Odoro das Alagoas.
As apresentações foram feitas em vários locais do hospital, tipo um cortejo. Foi uma coisa bem diferente, bem bacana. Essa foi a primeira Jornada, espero que possamos fazer mais eventos como esse. Talvez no próximo ano, a expectativa é que seja feita pelo menos uma vez ao ano. Eu senti que as pessoas que vieram para cá, ficaram muito tocadas por participarem dessa Jornada, que foi um sucesso de público. 

Inforbiblio: Em que você acha que a especialização em Recursos Humanos, agregou à sua formação de bibliotecária?

Isabel Calheiros: Na nossa profissão como entre outras, estamos sempre lidando com o ser humano, por meio desse curso eu pude adquirir novas ferramentas, para poder melhor avaliar várias situações, para saber como agir corretamente diante de alguns impasses da vida profissional e até pessoal. Esse curso me deu maior capacitação no trato com as pessoas.

Inforbiblio: Deixe uma mensagem para os nossos leitores.

Isabel Calheiros: Dificuldades sempre passarão pelo nosso caminho, mas o importante é seguir em frente, estar sempre se atualizando, pois, o conhecimento é muito volátil. Procurar fazer uma pós-graduação. Eu vou tentar entrar no mestrado esse ano. Não fiz ainda por várias razões, e a principal delas é que aqui na cidade de Maceió, não existe pós na nossa área, lamentavelmente.
A Bibliotecária Isabel Calheiros faz aniversário hoje 21/06, mas quem ganha o presente é o Inforbiblio. Parabéns, Isabel! Obrigada pela generosidade. Que você continue contando e encantando a todos!

11 junho 2017

Almiraci Dantas - Parte II


"Se eu sou bibliotecária, qual a minha missão na terra, enquanto profissional? É fazer com que a minha atuação faça com que a desigualdade na sociedade seja reduzida. como? promovendo o acesso à leitura, pois a desigualdade está na falta de conhecimento e o bibliotecário é a ponte" (Mira Dantas, 2017).


Se você ainda não leu a primeira parte dessa entrevista, sugiro que  passe lá no post anterior. A historia dela é muito fascinante. Não Perca!

Inforbiblio - Qual o seu percurso na Biblioteconomia antes de assumir o cargo de  Coordenadora do Sistema Estadual de Bibliotecas? 


Mira - Fui bolsista da biblioteca setorial do Instituto de Ciências Sociais (ICS). A biblioteca tinha passado por uma reforma e os livros tinham sido retirados para que o local pudesse receber uma pintura nova. Então parecia que havia passado um furacão por ali. Como as setoriais na época não contava com um (a) bibliotecário (a), eu tive que organizar tudo ali.

Estagiei na Secretaria do Estado do Meio Ambiente e Recursos hídricos de Alagoas (SEMARH), na qual existe uma biblioteca especializada. Com isso eu tive a oportunidade de trabalhar pela unidade administrativa na Agência Nacional de Águas (ANA). Meu cargo era de Assistente Administrativo que auxiliava a Bibliotecária Cândida Righetti, apesar de não ser esse o cargo oficial dela lá, mesmo por que não existia esse cargo na grade da instituição, mas precisavam do profissional. Então nós montamos a biblioteca da unidade e organizamos o arquivo.
Consegui uma bolsa-pesquisa na UFAL,  sobre a história do Curso de biblioteconomia e juntamente com a minha orientadora, Maria de Lourdes Lima, fizemos um artigo oriundo dessa pesquisa. Depois Defendi meu TCC, intitulado “O PATRIMÔNIO IMATERIAL: UMA LEITURA DAS AÇÕES CULTURAIS DA ONG OLHA O CHICO PIAÇABUÇU/AL.“
Depois de formada passei 2 anos parada, pois engravidei da minha filha, Liz Mariah. Na sequência em 2014 tive a oportunidade de trabalhar durante um ano com a então gestora aqui da Biblioteca Pública Estadual (BPE), a bibliotecária Maria Luiza Russo. Eu trabalhava com mais dois bibliotecários que numa transição de governos acabaram sendo dispensados. Logo após a BPE foi reinaugurada e eu fiquei com o cargo comissionado de Bibliotecária. 
Fui indicada pela Maria Luiza e pela Coordenadora do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas (SEBP) na época e também bibliotecária, Wilma Nóbrega. Me encontro já há 2 anos como gestora, e a biblioteca hoje conta com 75 mil exemplares e conheço esse acervo como a palma da minha mão, pois acompanhei todo o processo de organização desde o período que era apenas da força tarefa, auxiliando aos estagiários.

Inforbiblio - Durante essa trajetória como gestora, qual ou quais foram os projetos que mais te instigaram, quais os que proporcionaram resultados tão positivos ao ponto de você pensar em ir além e democratizar-los em outros espaços, no caso quando você não se encontrar mais nesta gestão?

Mira - Pra mim o importante é a dinamização. É colocar em prática essa ação cultural que o bibliotecário estuda na sala de aula a partir de Coelho Neto, que eu acho muito importante, principalmente na biblioteca pública. Mas o projeto que mais me instiga é o que ainda está em fase de implantação é o Sistema de Empréstimo Domiciliar, que é primordial para a democratização da leitura. 

Inforbiblio - Como se deu esse iniciativa, como está esse processo do Sistema de Empréstimo?

Mira - Passei um ano estudando as possibilidades para que esse projeto acontecesse, pois já existiam ferramentas na biblioteca que precisavam ser utilizadas. Existia um software que se chama Arches Lib no qual estava impossibilitado de realizar o empréstimo domiciliar através dele, pois faltava o Protocolo CIP. Por conta de algumas burocracias,  era mais fácil trocar o sistema. 
Certa vez o governador em visita a BPE me disse uma frase muito interessante: “Biblioteca é um espaço onde deve girar o livro, assim como o banco deve girar o dinheiro“ Aí eu aproveitei esse gancho e coloquei na reunião de planejamento de ações de marcos, que nós temos todo ano. Daí a Secretária de Cultura do Estado, aceitou que esse serviço entrasse como marco desse ano de 2017. Então dentre 3 softwares pesquisados o SIAB foi o que se encaixou nas necessidades da BPE e brevemente será concluída sua implementação.

Inforbiblio - Explique-nos um pouco sobre o Conecta Biblioteca

Mira: O Conecta Biblioteca é um programa que foi pensado por todos os gestores dos SEBPs dos estados brasileiros juntamente com a iniciativa da ONG Recode e da Caravan Studios, com patrocínio da Fundação Bill & Melinda Gates, para proporcionar que as tecnologias façam os jovens terem mais acesso à leitura e as bibliotecas presencial e também online. Foi dado inicio a primeira fase com a Recode, “Transformar para reprogramar”. Na segunda fase com parcerias com os sistemas estaduais, foi aí que começamos a nos reunir para pensar metodologias deste programa, pensar nomes. Esse nome "Conecta Biblioteca", foi pensado por nós gestores e pela Recode. No caso, conectar é fazer com que as bibliotecas estaduais e também municipais estejam em rede, trocando experiências e conhecimentos.

Inforbiblio - Você acompanhou os gestores dos municípios de Teotônio Vilela, São Miguel dos Campos, Dois Riachos e Branquinha, que foram escolhidos pelo programa para participar de um treinamento que aconteceu no Rio de Janeiro, não é mesmo?

 Mira - Sim. Foi o primeiro encontro. O pessoal foi capacitado durante 3 dias. Nesse treinamento os gestores de bibliotecas aprenderam como desenvolver ações para que sua biblioteca seja dinamizada e faça total aproveitamento da tecnologia existente, tanto que na seleção dos municípios, o critério de desclassificação era para as bibliotecas que possuíssem menos de 3 computadores. As escolhidas tinha que além disso ter acesso à internet. Outro fator que influenciou muito também foi o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) quanto menor o IDH do município, maior a chance dele ser escolhido.
O desafio é fazer com que depois desse programa o gestor venha a obter um aumento de pelo menos 60% de usuários do que a biblioteca tinha antes. E a expectativa é que esses usuários sejam em sua maior parte  jovens, porque a gente pensa num público promissor, pois jovens engajados se tornam leitores, tornam-se críticos, escritores e assim por diante. Futuramente esse jovem tem condições de construir, contribuir, enfim. 
A grande proposta do programa é pensar na Organização da Nações Unidas (ONU), numa agenda 2030, que já está sendo trabalhada desde 2016. Para isso, nós que estamos à frente dessas bibliotecas, temos que fazer com que essas bibliotecas atinjam dois objetivos: Educação de qualidade e a diminuição da desigualdade. 
A Recode, os Estados, a ONU e os patrocinadores Bill & Melinda Gates, entendem que o nosso mundo é muito desigual e a causa disso é a falta de conhecimento e informação que são detidas a partir de leitores. A grande revolução do mundo hoje é a leitura. Por isso que os governantes, de certa forma, não se debruçam para investir em bibliotecas e escolas de qualidade.
Então a intenção é fazer com que todas as bibliotecas municipais e estaduais estejam interligadas. Por isso existe a fanpage do Facebook.

Inforbiblio - Infelizmente, como você mesma me confessou, nenhum desses municípios selecionados têm bibliotecários no comando das bibliotecas, e sim funcionários públicos exercendo o cargo de gestores. Você ressaltou também que tragicamente, esse não é um problema apenas do Estado de Alagoas, pois todo o território brasileiro sofre com essa precariedade. Por isso que é importante não confundir e não denominá-los como bibliotecários, pois o correto é dizer que eles são profissionais de biblioteca. Mas o que você acha que pode ser feito para que se possa mudar essa triste realidade?

Mira - Nós bibliotecários temos que mostrar do que somos capazes, como agentes de mudança. Temos que reivindicar concursos municipais e estaduais para bibliotecários. Outra alternativa é acionar os Conselhos Regionais de Biblioteconomia (CRBs) quantas vezes forem necessárias, até que vençamos pelo cansaço, se for o caso. Enquanto isso, cada um tem que cair em campo e oferecer seus serviços de consultoria nesses espaços. Mas cada vez mais, eu observo muito aqui na biblioteca que os usuários sabem fazer reivindicações dos seus direitos. Se falta água, eles reclamam, se falta papel higiênico, eles reclamam. Se um computador não liga, eles reclamam. Mas a denúncia é porque eles entendem que os usuários têm o direito de serem bem atendidos, que são cidadãos conscientes e sabem que podem reivindicar por uma coisa que é deles. E por que o bibliotecário não sabe fazer exigências? Fica a pergunta.

Inforbiblio - Já se cogitou entre bibliotecários daqui a possibilidade de Alagoas separar-se do Conselho regional de Pernambuco. O que você acha da ideia de formação do nosso CRB aqui? 

Mira - Acho que é viável. Em tese seria mais prático. Ganharíamos mais rapidez e agilidade nas ações e principalmente nos registros. Mas como já sou presidente do Sindicato dos Bibliotecários de Alagoas (SINBIBLIO/AL), deixo para os colegas a missão de encabeçar aí um movimento pró “apartheid”.

Inforbiblio - Deixe uma mensagem aos estudantes, futuros bibliotecários

Mira - Vou me estender aos atuais bibliotecários também… Não façam o curso só para obter um diploma. Se já é bibliotecário e não quer verdadeiramente atuar como um agente de mudanças, desistam! Pois o bibliotecário assume um compromisso com a sociedade, não é com o livro, é com a humanidade. Se eu assumo uma responsabilidade com os cidadãos, eu preciso me atualizar, me antenar para oferecer mais serviços e os mais diversificados o possível. 

 Inforbiblio - Obrigada, Mira Dantas, por dedicar um pouco do seu tempo tão atarefado. 

 Mira - Eu é quem agradeço pela oportunidade cedida por este espaço!


Almiraci Dantas dos Santos, é Coordenadora da Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos e do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas de Alagoas da Secretaria de Estado da Cultura. Coordenadora do Programa PROLER. É presidente do Sindicato dos Bibliotecários alagoanos (SINBIBLIO/AL). Pesquisou e organizou o registro do Conhecimento acerca da Memória Histórica Institucional do Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Pesquisadora na temática: MEMÓRIA E HISTÓRIA INSTITUCIONAL E PATRIMÔNIO (I)MATERIAL. 
Graduada em Biblioteconomia pela UFAL

07 junho 2017

Almiraci Dantas



Almiraci Dantas dos Santos, é Coordenadora da Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos e do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas de Alagoas da Secretaria de Estado da Cultura. Coordenadora do Programa PROLER. É presidente do Sindicato dos Bibliotecários alagoanos (SINBIBLIO/AL). Pesquisou e organizou o registro do Conhecimento acerca da Memória Histórica Institucional do Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Pesquisadora na temática: MEMÓRIA E HISTÓRIA INSTITUCIONAL E PATRIMÔNIO (I)MATERIAL. Graduada em Biblioteconomia pela UFAL.






Nossa entrevistada é mais conhecida como Mira Dantas, nasceu em um povoado de difícil acesso no município de Piaçabuçu, chamado Potengi. Aos 14 anos ela só estudava, como a maioria das meninas da sua idade, mas com a iniciativa da Secretaria da cultura de Piaçabicu, de colocar um professor de música para o coral da igreja, ela se inscreveu para participar. “O Grupo Caçuá - de artes integradas, com foco no regionalismo estava precisando de um representante de Piaçabuçu, então eu fui eleita para fazer parte do grupo, cantando e recitando valores regionais."

Esses recitais englobavam toda a cultura do município de Piaçabuçú e das cidades ribeirinhas no entorno do Rio São Francisco, assim como Alagoas e todo o nordeste. Ela conta que surgiu a necessidade de mudar-se para a cidade de Piaçabuçu devido à existência de uma casa alugada pelo prefeito da cidade, onde o grupo se reunia toda a semana para ensaiar. A casa era toda caracterizada com poesias e frequentada por pessoas de vários lugares de Alagoas, inclusive de Maceió. Depois a casa não pode mais ser alugada e Mira foi morar com a então secretária de cultura, Dalva de Castro, a quem chama carinhosamente de segunda mãe. “Ela cuidou de mim e me ensinou muitas coisas.”
O grupo Caçuá fazia excursões por todo Brasil. Com eles, Mira aprendeu artes teatrais, música, dança e interpretação. “A partir disso eu conheci muitas pessoas do país e daí eu aprendi a ver em mim uma beleza que eu não conhecia, aprendi a valorizar minha cidade, a saber quão belo era o rio, quão belo era o pescador, quão bela era a lavadeira na beira desse rio. Foi a partir do olhar dos visitantes que sabiam valorizar tudo aquilo, que eu clareei a minha visão e aprendi não só a dar valor, mas também sentir muito orgulho do meu lugar.”

Ainda através do Caçuá, Mira engajou-se em outros projetos, dentre eles o que encabeçou a ONG Olha o Chico, que em seu Estatuto tinha várias diretorias. Pasmem… Com apenas 16 anos, ela assumiu a diretoria de comunicação. Que menina precoce!. “Eu fazia bonecas de informativos, colhia as informações, fazia a impressão e saía de bicicleta entregando nas casas".
Ela fazia ainda um programa na Rádio Mandim - uma rádio comunitária que cedeu 1 (uma) hora para a ONG. E ela aproveitou muito bem, passando informativos sobre a Organização e sobre a conscientização da preservação do Rio São Francisco. Mira também fazia entrevistas em seu programa abrindo espaço para os pescadores da região que davam dicas de pesca, sobre a maré, sobre a época propícia para pescar, como também, quando era proibida a pesca na qual o IBAMA chama de 'Época do Defeso'. “Tinha também o momento cultural, então eu convidava sanfoneiros do povoado, convidava a Filarmônica Euterpe, entre outros. Eu inventei uma personagem, a Dona Chica, eu falava como uma velha, agia como uma velha, pensava como uma velha. O programa era todos os sábados, passava no dia de feira, na hora de feira. Então as pessoas gostavam porque ela era irreverente. 

Depois eu tive uma parceira que fazia a minha comadre fuxiqueira.
Quando Mira já fazia o ensino médio, a Secretária Dalva sempre levava cursos do Sebrae e do Senai para o município. Um dos cursos que ela fez foi sobre o cultivo da mandioca. Alem disso, existia também a Fundação Accioly Gama (FUNTAG), e Dalva promovia festivais de teatro e Mira também se aventurou na montagem de peças teatrais. “Eu montei umas 3 (três) peças. Eu mesma escrevia, dirigia, fazia a sonoplastia, tudo. Uma dessas peça ganhou os prêmios de sonoplastia, melhor ator coadjuvante e melhor direção. A peça vencedora tinha que ser apresentada nos povoados e não tínhamos transporte adequado para isso, então nós usávamos a caçamba de lixo da cidade. A noite nós lavávamos a caçamba e montávamos o palco sobre ela (tipo teatro mambembe), estacionávamos na praça, colocávamos os  holofotes e gelatinas, fazíamos as caracterizações e chamávamos o público para assistir."

Eu perguntei à Mira o que a motivou a querer fazer um curso superior, ela respondeu que existia uma biblioteca na cidade, sem bibliotecário (a), para variar, e ela fazia de tudo um pouco por lá. “Então aconteceu um projeto do SESC, a exposição de imagens do “Tatibitati” livro de Fátima Maia. Foi quando a Dalva pediu para que fosse feita contação de história com o livro Tatibitati, daí eu contei historinhas pela primeira vez. Os alunos vinham das escolas para visitar a exposição e depois levamos essa contação também para os povoados. Perguntei se ela apaixonou-se pela biblioteca e por isso escolheu a Biblioteconomia. Ela respondeu: "Não, mesmo porque eu era apaixonada por tudo que eu fazia, não foi a biblioteca que determinou isso. Eu nem sabia o que queria fazer, só sabia que tinha que ser algo relacionado com o público. Pensava em jornalismo, pensei até em medicina, depois desisti". Contou Mira. Perguntei também se ela não pensou em fazer um curso superior em Teatro e ela respondeu que não, nunca quis fazer, nem pensou em fazer música.

Pedi a Mira que contasse sobre a odisseia de sair do interior para estudar na capital. "Aos 18 anos Fiz o primeiro vestibular e não passei, daí minha mãe biológica que já era merendeira, tirou um empréstimo no banco para bancar um cursinho pra mim. Me juntei com mais duas colegas que estavam vindo para Maceió e ficamos no apartamento de outra colega, no bairro do Feitosa. Dividimos as despesas, o aluguel e tínhamos as mensalidades do cursinho para pagar. Eu tinha que fazer valer, tinha que estudar muito, me dedicar extremamente. A minha ânsia foi tanta que eu passei a não me cuidar. Daí eu comecei a me distanciar do Caçuá, da ONG, me distanciei de tudo. E também passei a não me alimentar direito, com isso eu entrei em depressão e tive vários problemas de saúde, não conseguia nem tomar água. Então tive que voltar pro interior pra me restabelecer. Voltei  chorando, pois iria perder uma semana de cursinho. Recuperada voltei à Maceió, fiz o vestibular e novamente não consegui passar. Como não tinha como permanecer aqui, regressei novamente ao interior. Passaram-se 6 (seis) meses e minha mãe mais uma vez me ajudou. Ela me disse: 'Arrume um lugar para morar. Todo mês e vou lhe enviar uma ajuda de custo.' Passei a morar na casa de uma amiga, por convite dela."

Mira retomou suas atividades na ONG e esta passou a ter representatividade no Comitê da Bacia do Rio São Francisco, pois o objetivo dessa ONG era meio ambiente, arte e cultura. Ela ficou como representante suplente da ONG. "Então comecei a viajar mais do que antes pelo Brasil. Nessas andanças eu conheci o Marido de uma professora da UFAL que também fazia parte do comitê. Conversando com ele, o mesmo me questionou: Porque você não faz Biblioteconomia? Eu: Biblio o quê? Ele: Minha esposa é professora de Biblioteconomia, penso que você vai gostar. Fiquei querendo saber o que era isso, biblioteconomia… Então comecei a pesquisar e ver as áreas de atuação e percebi que tinha a ver com o que eu já fazia. Foi aí que eu me decidi pela Biblioteconomia e fiz o vestibular pela terceira vez. Passei em 4º lugar e me apaixonei e continuo apaixonada até hoje." Finalizou Mira.

Vou confessar que essa entrevista não terminou aqui, apesar dessa carinha de menina, essa mulher ainda tem muita história pra contar... Acompanhe aqui na Parte II

05 junho 2017

Dandara Baçã - Coordenadora Geral do SNBP

A bibliotecária Dandara Baçã de Jesus Lima é a nova coordenadora-geral do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), órgão da administração federal encarregado pela política nacional das bibliotecas públicas, que é subordinado ao Departamento de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas do Ministério da Cultura (MinC). Ela substitui a também bibliotecária Virgínia Bravo Esteves, que estava no cargo desde setembro do ano passado (Biblioo, 2017).


A nomeação da nova coordenadora foi publicada no Diário Oficial da União no último dia 23 de maio e a mesma tomou posse no cargo no último dia 02 de junho de 2017.  Pela frente a nova coordenadora terá a missão de zerar o número de municípios sem bibliotecas, algo desejado, mas nunca alcançado efetivamente pelas gestões anteriores. De acordo com os dados do SNBP (os dados mais recentes são de 2015), o Brasil tem 6102 bibliotecas públicas municipais, distritais, estaduais e federais, nos 26 estados e no Distrito Federal (BIBLIOO, 2017).

No post anterior, eu reclamava da representatividade da classe, isso é o que não falta na Dandara Baçã, que tem um histórico de luta em favor dos direitos humanos.Veja a entrevista que ela deu ao CRB-6, simplesmente maravilhosa. Olha o que ela responde quando é indagada sobre qual a sua visão sobre a biblioteconomia e a atuação do bibliotecário no Brasil. 

"Existe um potencial a ser desenvolvido, visto que há pouca vontade de se reinventar. Na Biblioteconomia existem muitos preconceitos explícitos, principalmente contra quem não possui mais títulos acadêmicos. Percebo que, muitas vezes, não sou ouvida em grupos de discussão da área por ainda não ser pós-graduada, por exemplo. Além disso, a Biblioteconomia brasileira vive em um mundo próprio, marcado por uma suposição de que haja reconhecimento profissional para todos. Mas nos deparamos constantemente com preconceito, homofobia, transfobia e racismo. Precisamos quebrar essa “bolha” e nos reinventar. Há muita demanda da sociedade por serviços que temos competência para realizar, mas não o fazemos." (DANDARA BAÇÃ AO CRB-6).

Dandara Baçã de Jesus Lima é Bibliotecária no Ministério da Saúde, formada na Universidade de Brasília (UnB). Graduanda em Direito pelo Centro Universitário do Distrito Federal (UDF), cursa também pós-graduação em Direito Notarial e Registral, além de mestrado em Saúde Coletiva na UnB. Ativista social, Dandara atua no Movimento Negro Unificado (MNU), na organização Corpolítica, na Frente de Mulheres Negras do Distrito Federal e no Entorno e Rede de Ciberativistas Negras Contra o Racismo e o Sexismo (CRB-6, 2017).

Fontes:
Biblioo <http://biblioo.cartacapital.com.br/o-sistema-nacional-de-bibliotecas-publicas-tem-uma-nova-coordenadora-geral/>

CRB-6 <http://blog.crb6.org.br/artigos-materias-e-entrevistas/crb-6-entrevista-dandara-baca/ >

30 maio 2017

Falta Representatividade

É chocante saber que em pleno século 21 ainda existam escola sem bibliotecas. É igualmente impactante saber que existem bibliotecas escolares sem a presença de um (a) bibliotecário (a). É estarrecedor constatar que o puder público e profissionais da área da educação desconheça esse profissional. Será que políticos e os professores de escolas do ensino fundamental são assim tão desinformados, ou somos nós que não estamos sabendo criar ações e comportamentos que nos façam ganhar a visibilidade necessária?

Vejamos uma matéria do UOL, intitulada "PARA DAR VIDA ÀS BIBLIOTECAS ESCOLARES - ESPAÇOS NEM SEMPRE SÃO BEM APROVEITADOS NAS REDES DE ENSINO. SEMINÁRIO NO RECIFE VAI DISCUTIR COMO DINAMIZAR AS BIBLIOTECAS"


A autora da matéria, Margarida Azevedo, reconhece que a Escola Municipal do bairro de Tejipió, na Zona Oeste do Recife, está alojada numa sala com ar-condicionado, repleta de livros, mas é como se não existisse. Daí ela comenta... "Falta quem organize o local e o torne atrativo para os alunos". É como se qualquer pessoa pudesse chegar lá e realizar uma mágica. Onde fica a valorização do profissional? Ela continua... "Ressaltar a importância das bibliotecas escolares como instrumento de formação de leitores é uma das propostas de um seminário que começa segunda-feira, no Recife, com a participação de 200 professores de colégios municipais e estaduais da capital pernambucana". Você não leu errado - são duzentos professores. Cadê os bibliotecários nessa história?

Margarida ainda destaca a fala da coordenadora pedagógica da escola, Tânia Rodrigues... "Material não falta. Dispomos de muitos livros. O nosso desafio é ter uma pessoa para organizar a biblioteca. Há uma professora, que por problemas de saúde não pode estar em sala de aula, designada para lá, mas ela sempre está de licença médica". Desafio: Ter uma pessoa - não um (a) bibliotecário(a) para organizar. Uma professora doente não pode mais lecionar, mas ficar na biblioteca, pode. Subentende-se que o problema é só a falta de saúde, pois se não fosse esse fato, ela estaria apta para organizar o local e fazer o papel do bibliotecário escolar/cultural.

A autora ressaltou ainda que a secretaria de educação do Recife, prometeu verificar a situação da Escola Municipal de Tejipior para indicar uma outra pessoa para assumir a biblioteca. Novamente um órgão público não tem o conhecimento de que não se pode colocar qualquer pessoa para organizar e dinamizar uma biblioteca. Como é possível isso? Sempre reclamamos que somos reconhecidos como aquele profissional que somente atua em bibliotecas - e ficamos chateados com isso. E quando o problema é não ser conhecido de forma nenhuma? 

Aqui tem a reportagem completa. Você constatará que em nenhum momento o nome BIBLIOTECÁRIO (A) foi citado. Não basta ser saudável ou ter boa vontade. Tem que está apto para assumir o cargo. Ter que ser qualificado profissionalmente. Tem que ter cursado biblioteconomia e possuir registro no Conselho Regional de Biblioteconomia - CRB4. Falando em CRB4, cadê o órgão para autuar esse escola? Se a escola já tivesse sido advertida, com certeza a reportagem teria um teor diferente.

Mas nem tudo está perdido! durante minha pesquisa para obter respaldo para esse post, me deparei com uma reportagem da Folha PE, que fala sobre o Seminário supracitado aqui. Descobri que o mesmo encontra-se em sua 2ª edição, que começou ontem 29/05 e se estenderá até o mês de novembro. O melhor de tudo é que terá uma bibliotecária como palestrante, a especialista em bibliotecas da Secretaria de Educação de Campinas (SP), Gláucia Mollo... Salve! Viva! Palmas! 

Gláucia Maria Mollo
Orientadora Pedagógica da Rede Municipal, com Licenciatura em Pedagogia, Bacharelado em Biblioteconomia e Mestre em Biblioteconomia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Foi Coordenadora das Bibliotecas Escolares da Rede Pública Municipal (de 1993-1997), Coordenadora das Bibliotecas Públicas Municipais (de 1996-2003) e Coordenadora do Comitê do Programa Nacional de Leitura (PROLER) do município de Campinas (de 1998-2005). Atualmente é responsável pelo Projeto Leitura em Movimento da Secretaria Municipal de Cultura (desde 2001), especialista que ministra cursos de Auxiliar de Biblioteca junto ao Projeto Bibliotecas Comunitárias Ler é Preciso (desde 2005) e é Votante da Fundação do Livro Infantil e Juvenil (desde 1999).

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